Gemma Styles falando sobre Harry para a Another Man

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Gemma Styles FALA SOBRE COMO FOI CRESCER COM SEU IRMÃO ANTES DE TER DE DIVIDI-LO COM O MUNDO

É uma experiência estranha ter seu irmão mais novo se tornando um pop star. Uma coisa que a ascensão de Harry me ensinou foi que de repente você não é mais visto como uma pessoa normal, mas  como uma “coisa” famosa que simplesmente ganhou vida quando uma câmera foi apontada à você. As pessoas foram em debandada para pegarem qualquer mínima informação sobre sua vida, sendo elas prontamente compartilhadas ou não, para tentar entender de onde veio essa criatura com aquele cabelo e as botas prateadas.

Eu tinha três anos quando Harry nasceu. Como é de se esperar, minhas primeiras memórias sobre ele são uma mistura nebulosa. As pequenas coisas foram as que mais me marcaram: nossa velha casa e jardim, os brinquedos do parquinho, família de cachorros. Max era um Border Collie cruzado com Lucher, o único cachorrinho com manchas cinzas, cachos na cauda e olhos multicoloridos de uma ninhada de cães pretos. Eu escolhi ele por sua estranheza e nós o adoramos. Quando Harry tinha apenas um ano, ele deitava no chão com Max ou ficava junto dele em sua cesta, todo loirinho com enormes olhos azuis, então de repente pegava seu boneco e nitidamente o sacudia na boca do cachorro, como algo de um episódio dos Simpsons. Max, de alguma forma, parecia confuso mas por algum motivo deixava ele fazer isso. Harry era assim com ele.

Resultado de imagem para gemma e harry stylesEle era muito escandaloso. Acho que a primeira vez que eu fiquei com problemas sérios foi quando eu o empurrei da cadeira por que ele não parava de chorar de jeito nenhum. Também teve aquela vez em que Harry realmente tentou me deixar com problemas, quando eu contei para ele que a luta livre WWF era tudo encenação – ele tomou isso com um insulto pessoal e em vingança contou para a nossa mãe que eu era a pior coisa que ele conseguia imaginar… uma traficante de drogas.
“Não, ela não é Harry… ela tem 9 anos.”

Quando eu comecei a escola em Holmes Chapel, nos dias quentes, quando os carros estavam alinhados do lado de fora e os pais estavam matando tempo, Harry – que nunca tinha medo de atrair atenção – ficava em pé na parte de trás do carro, cumprimentando todo mundo pela janela aberta. Mesmo naquela época ele já tinha esse magnetismo que fazia as pessoas quererem olhar para ele. Ele fazia as pessoas rirem. Bebês ainda ficam o encarando –  Ã© ate meio estranho.

O pequeno menino Harry era cheio de energia. Não era difícil para ele fazer amizade e teve sua primeira namorada aos quatro ou cinco anos de idade. Ele fazia o que queria, mas às vezes parecia que o que ele queria mesmo era fazer as outras pessoas felizes. Desde jovem, eu tinha o sonho de me tornar professora e Harry fingia ser meu único aluno, preenchendo minhas fichas caseiras de trabalhos de forma obediente e respondendo a todos os nomes da chamada com uma voz diferente para cada um. As vezes, um aluno imaginário não respondia, então eu tinha a alegria de chamá-lo de novo, perguntando à minha “classe” onde ele estava. Ele me dizia que o aluno tinha viajado no feriado ou estava no dentista, então eu poderia oficialmente marcar falta. Teve uma comemoração, no dia das mães, em que estávamos sentados dando os presentes para nossa mãe. Harry estava explodindo de alegria, pela primeira vez ele tinha jurado não estragar a surpresa antes da hora. Ela abriu o cartão e estava prestes a rasgar o papel de presente quando ele não conseguiu se conter mais e gritou: “É uma bolsa!” Estávamos tão perto.

Em uma viagem familiar ao Chipre, quando Harry devia ter uns sete anos, ele se destacou no jogo da socialização. Enquanto eu, a introvertida, passei várias manhãs estocando presunto do buffet do café da manhã para distribuir para gatos que ficavam na rua fora do hotel, ele ficava de conversa na piscina com pessoas três vezes mais velhas que ele. Quando voltamos de ônibus para o aeroporto, no fim de nossa viagem, havia uma multidão de jovens mulheres reunidas na calçadas acenando para ele pela janela, gritando suas despedidas. Às vezes eu olho para ele agora e me pergunto como ele consegue fascinar tantas pessoas, sendo apenas ele mesmo, mas a verdade é que ele sempre fez isso – só que agora mais pessoas o assistem.

Nos primeiros meses dele se juntando a mim na escola secundária, Homes Chapel Comprehensive, algumas vezes os professores me diziam: “Então… conheci seu irmão.” A maior parte do meu tempo lá eu fui muito tímida – falar na frente da turma era meu pior pesadelo. Eu era nerd, quieta e muito fácil de se lidar em sala de aula, eu acho. Quando mais tarde eu treinei para ser professora, e falar em frente à turma ainda era um pesadelo, eu pude imaginar como para o Harry talvez tenha sido um pouco difícil. Eu nunca conseguiria imaginá-lo sendo deliberadamente rude ou até desobediente (talvez eu esteja vendo só o lado positivo), mas ele é brincalhão, falante e fazia as pessoas se distraírem – nada ideal para uma lição produtiva. Muitas vezes não se percebia que éramos parentes, logo de cara.

Harry não se esforçou tanto mas, três anos na frente dele, eu estava me formando na área acadêmica. Ele pensou que deveria ter suas notas parecidas com as minhas, acho que ele ficava frustrado às vezes e nossa mãe me fazia ajudá-lo com os trabalhos de ciências e inglês, para fortalecer sua confiança em grandes provas. Eu nunca vou conseguir compreender como ele tinha problemas de confiança; ele era popular, bom em esportes e não era mal aluno também. Eu trocaria minhas notas “A” pelo carisma e notas “B” dele sem pensar. Eu não digo isso para apontar seus fracassos, mas para tentar oferecer alguma perspectiva. Tudo o que ele faz parece tão sem dificuldade, mesmo agora; observando-o se movendo em um palco na frente de milhares de pessoas, ele parece tranquilo e livre de insegurança. É fácil ficar com inveja — ele é uma dessas pessoas que simplesmente são boas nas coisas, todos nós conhecemos alguém assim — mas achar que ele pensa que tem tudo isso de graça ou que ele não se preocupa, ou não se esforça seria menosprezá-lo injustamente. Seus montes de talento são uma mistura de habilidade natural e dedicação intensa.
Nossa mãe nos ensinou a sermos independentes. Quando éramos adolescentes, ela nos criou no que era de modo geral, uma casinha feliz. “Crianças livres”, como ela nos chamava, nós voltávamos da escola para casa antes que ela tivesse terminado o trabalho. Embora isso algumas vezes lhe causasse uma culpa maternal, nunca foi uma coisa ruim, e nós aprendemos a conviver como uma dupla durante esse período diário que passávamos sozinhos, cozinhando macarrão e discutindo por causa do controle da TV. Quando ela tinha um dia ruim, como todos nós temos às vezes, nós tentávamos fazer a nossa parte como podíamos. As tentativas do Harry de animá-la eram as melhores, por causa de sua despreocupação jovial. Uma criança de doze anos de idade já assistiu filmes românticos o suficiente para saber que um cara atencioso é alguém que prepara uma banheira, então era isso que ela ganhava de tempos em tempos, junto com uma bagunça de velas recolhidas pela casa e espalhadas pelo banheiro.

Como uma criança “maneira”, Harry se destacava, mas ao mesmo tempo se encaixava. Ele sempre se interessou por roupas, e gastava todo o dinheiro que ganhava de aniversário e seus salários para pegar o trem até Manchester e expandir seu guarda-roupas. Ele foi entregador de jornal e depois trabalhou na padaria da vila durante um tempo. Eu mal tinha começado a comer meu cereal quando ele voltava para casa depois desses empregos em que começava absurdamente cedo — o desejo por tênis novos obviamente vencendo a vontade de passar mais tempo na cama. Quando uma onda de adolescentes emo tomou conta de Holmes Chapel, nós dois aderimos com nossas franjas escorridas e nossos cintos cheios de pontas metálicas. Para conseguir esse visual, ele tentou roubar a minha chapinha para atacar seus cachos — e falhou, requisitando a minha ajuda para domar seu cabelo e fazê-lo se render. Mais tarde, ele me deixou cortá-lo também: eu não fazia a menor ideia do que estava fazendo, e ele sempre odiava o corte pelos primeiros 20 minutos, até admitir que eu tinha razão e que realmente estava melhor. Oh-oh. Os jeans colados nunca foram embora… mas os sapatos xadrez de salto alto foram.

Quando eu fui para a universidade e saí de casa pela primeira vez, nenhum de nós tinha a menor ideia de que um Harry de 16 anos de idade iria logo atrás, alguns meses depois. Ele estava falando sobre escolher seu vestibular e tinha planos de se tornar um psicoterapeuta. Nós nos dávamos bem em praticamente todos os aspectos, mas naquela época, nós não estávamos assim tão próximos; ele tinha os amigos dele e eu tinha os meus, nossos interesses eram bem diferentes, a não ser pela música — ele frequentemente me perguntava o que eu estava ouvindo, e eu dava a ele músicas emo e trilhas indie para conhecer. Foi surreal, alguns anos depois, estar sentada num cinema da Leicester Square assistindo à estreia do filme da One Direction, vendo-o falar sobre a música que costumava sair do meu quarto no sótão. Foi só depois que eu já tinha saído de casa que eu percebi que ele realmente sentiria a minha falta. A nossa mãe disse que ele dormiu no meu quarto por aproximadamente uma semana depois que eu saí. Eu não acho que tenha sido só porque eu tinha o maior quarto.


Quando nós ficamos sabendo que ele tinha passado para as audições televisionadas do X Factor, de repente pareceu real. Existe uma lista da qual os competidores escolhem a música e nós procuramos com cuidado para escolher algumas que ele já conhecia, algumas de que ele gostava e algumas que ele não conseguia se imaginar cantando. Quando ele teve que ensaiar, ele de repente ficou tímido e não nos deixava escutar. Ele cantava constantemente antes, e de início, eu não entendi porque aquilo era diferente. Depois de muita persuasão, ele ficava no banheiro com a porta fechada e cantava ‘Isn’t She Lovely’, enquanto eu e a nossa mãe sentávamos no corredor do lado de fora. Eu nunca tinha conhecido um Harry tímido, e honestamente nunca tinha percebido que ele realmente sabia cantar — essa habilidade geralmente ficava escondida por trás do humor ou do sarcasmo, ou de alguma vozinha boba; eu já o tinha ouvido cantar ‘Handbags and Galdrags’ um milhão de vezes no quarto dele numa máquina de karaokê, mas tinha sido sempre uma performance misturada com presunção e bravata, já que ele fingia ser outra pessoa. Quando ele era pequeno, ele cantou numa peça de escola no Ensino Fundamental como uma versão estilo Elvis do Faraó em ‘Joseph and the Amazing Technicolor Dreamcoat’. Foi ridículo. Ele era cômico. A partir do momento em que era sério, e que ele estava sendo ele mesmo, foi como se ele tivesse tido seu escudo arrancado. E ele era ótimo.

Conforme as semanas se passavam, nós continuávamos esperando que o passeio acabasse. Não acabou. No fim, ele foi convocado para ir para Londres, para Wembley, para a famosa fase “boot camp” da competição do The X Factor. Ele nunca tinha estado em Londres antes. Eu estava curtindo o verão depois do meu primeiro ano na universidade e, como minha mãe estava trabalhando, eu disse que o levaria na viagem. Nós combinamos de ficar com um amigo do nosso pai e decidimos ir uns dois dias mais cedo para aproveitar ao máximo a vista da capital. Eu o arrastei para o Museu de História Natural, tentando e falhando em fazê-lo se interessar mais por bichos-preguiça que por sanduíches; desisti no meio do passeio e nós vagamos por aí olhando vitrines e nos surpreendendo com o quanto o chocolate é caro na praça de alimentação da Harrods.

Logo o dia chegou. Nós pegamos o metrô até Wembley e andamos até o estádio, onde uma pequena multidão estava reunida do lado de fora. Todo mundo parecia tão mais velho que ele, e as pessoas estavam reunidas por ali em pequenos grupos, posando para fotos e cantando em harmonia, e tentando esquecer a competição, de modo geral. Ele viu um carinha com o qual ele tinha conversado em uma audição anterior e eu percebi que era hora de deixá-lo, com seus 16 anos de idade e nas sombras de um prédio que nós só tínhamos visto na TV. Eu fiquei por perto para quando a ligação chegasse e ele estivesse fora da competição, eu pudesse ir e lamentar com ele, levá-lo de volta para casa em Cheshire e para a escola, de volta para sua vida normal. Nenhum de nós queria que ele falhasse, mas nós nunca sonhamos que as coisas aconteceriam da forma como aconteceram. A ligação nunca veio. Ele só tem continuado a vencer e vencer — talvez não o The X Factor, mas não há como negar que ele é ouro. Meu irmãozinho nunca mais voltou para casa. Ele cresceu, e todas as nossas memórias se tornaram a história de suas origens.



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