Entrevista completa do Harry para a revista Another Man com Paul McCartney


HARRY TELEFONA PARA SIR PAUL McCARTNEY PARA UMA SUPER AULA DE COMO SOBREVIVER À FAMA, PERMANECER COM OS PÉS NO CHÃO E O SEGREDO PARA SEGUIR CARREIRA SOLO


PAUL: É você, Harry?

HARRY: Sou eu.

ANOTHER MAN: Paul, Harry está fazendo a transição desta experiência intensa de fazer parte de um grupo para se lançar por conta própria, você tem algum conselho para ele neste momento?

PM: É uma situação difícil, pois quando se está em um grupo você tem a força da união, mas também tem as divergências. Então quando você deixa essa união e está sozinho, é como estar saindo de casa. Mas você também pode tomar decisões por si mesmo mais facilmente. Eu não sei muito sobre conselhos, mas acredito que tem um que nunca falha: seja verdadeiro consigo mesmo, faça o que você acredita que seja o certo. É tudo o que eu diria.

AM: Voc̻s dois t̻m sido rodeados por f̣s Рconseguem se lembrar o primeiro momento de loucura em que perceberam que tudo mudou?

PM: No início, quando começamos a ter um pouco de dinheiro, eu costumava ir à Grécia nos feriados, para Corfu, e ninguém sabia quem éramos, enquanto que na Inglaterra todos nos conheciam. Então na Grécia foi bem calmo e eu lembro de ir para o fundo do hotel e ver a banda do hotel ensaiando e  fiquei lá com eles. Mas eu tive de persuadi-los, dizendo que eu era alguém na Inglaterra, eu dizia: “Estou em um grupo, sabe?” e eles respondiam “aham, sei”, eles não tinham o menor interesse. Aí eu pensei, isso é ótimo, eu posso vir sempre à Grécia como um escape porque eles nunca vão saber quem eu sou. E então, na outra vez que fui lá, todos eles já sabiam quem eu era e o meu pequeno esconderijo foi arruinado. Acho que essa foi a primeira vez em que percebi “oops, isso está ficando louco”.


HS: Na maior parte do tempo eu realmente só vou para casa. Meus pais ainda moram no lugar onde eu cresci, então este é um dos lugares em que sinto que mais consigo desaparecer, se é disso que estou precisando. Eu volto muitas vezes para Chesire e ando pelos mesmos campos e isso é uma daquelas coisas que não vão mudar nunca, não importa o que aconteça. É bom ter coisas como essas que não são diferentes de quando eu tinha dez anos. Eu tenho muita sorte de ainda ter essa base remanescente lá.

PM: É a mesma coisa para mim em Liverpool, voltar lá e ver a família. Você pode até ser famoso, mas para eles você ainda é “o nosso Paul”. Isso te equilibra, e eu faço as mesmas caminhadas que fazia quando era criança.

HS: Se você consegue dar um passo para fora dessa loucura e apreciá-la pelo fato de que é extraordinária, enxergá-la como essa coisa incrível por um segundo, está ótimo. Mas se você começar a pensar que a vida é assim, é aí que perde a sensibilidade. É bom ter pessoas que podem te falar quando você é um idiota e quando está errado. Acho que isso é tão importante quanto ter pessoas te encorajando, às vezes. Ir para casa é provavelmente sempre a melhor solução.

PM: Sim, eu concordo. Inclusive, eu vou voltar para casa com você, Harry.

HS: Minha mãe iria amar isso.

PM: Na minha família de Liverpool ninguém é especial. As tias, tios e parentes mais velhos eram as únicas pessoas da família que eram remotamente especiais e as crianças não eram nada. Até mesmo quando eu fiquei famoso com os Beatles era somente “Ok Paul, como você esta? Tome uma bebida.”, e você vai “Ah ok, isso mesmo”, isso apenas te lembra quem você é, quem você era, e eu sempre irei voltar de Liverpool renovado. Eu senti, isso é ótimo, eu sou “eu” de novo.

AM: Qual foi a coisa mais estranha que uma fã já fez para chamar a sua atenção?

PM: Ir ao seu quarto de hotel quando não foi convidada é um bom caso. Alguns incidentes vêm à mente, mas quando estávamos em Miami essa garota entrou em nosso quarto e ela acabou sendo uma coelhinha da Playboy. Eu pensei “Wow, isso é ótimo” mas não era. Muitas dessas coisas acontecem, mas que bom que você esquece a maioria.

HS: Posso te fazer uma pergunta? Quando você saiu da banda e foi seguir carreira solo, como ficou o seu lado criativo? Obviamente tem um grande reconhecimento sobre quem você era quando estava no grupo, mas você achou muito difícil pensar que “será certo se eu fizer algo diferente?” Como você lidou com essa primeira experiência criativa?

PM: Bom, na verdade quando os Beatles se separam eu já estava no processo de escrever algumas coisas. Eu apenas fiz uma coisa bem simples, que foi meu primeiro álbum solo chamado McCartney e ele só tinha algumas coisas escritas na capa, muito simples. Eu apenas precisava tirar isso do meu sistema. Não pensei muito sobre isso, somente fiz. Porém, mais para frente, havia essa dificuldade – você está pensando “bom, agora o que eu vou fazer? Apenas gravar músicas que pareçam com as dos Beatles? Ou será que eu devo tentar seguir uma direção completamente diferente que não se pareça em nada com os Beatles?” Então começamos o grupo Wings e eu pensei “dane-se, eu vou compor coisas que eu quero e mantê-las longe do que os Beatles poderiam ter feito.” Uma vez que isso foi estabelecido com alguns de nossos próprios hits, como ‘Jet’, ‘Band On The Run’ e coisas assim, então pensei que estava tudo bem fazer coisas dos Beatles de novo porque eu havia provado meu ponto para mim mesmo. Hoje em dia eu faço muitas “coisas dos Beatles”, não importa mais, estou feliz em fazer de tudo. Mas de início foi meio difícil, tenho que admitir.

HS: O que é legal para mim é que eu não estou me afastando da banda com o sentimento de que eu não era capaz de fazer o que queria. Eu amava e era mesmo o que eu queria, mas estou curtindo compor por enquanto; tentar coisas novas. Tenho me perguntado “O que eu tenho a dizer?”

PM: É um bom momento em sua vida, quando você sai de algo enorme e muito famoso e agora está realmente fazendo sua própria coisa, pode ser ótimo. Estou feliz que está gostando.

HS: Obrigado! Você está na estrada no momento?

PM: Sim, inclusive vou amanhã a noite para a Noruega e farei algo para a campanha Children In Need, que é completamente o oposto. Na Noruega será um grande estádio e na noite seguinte será como um encontro em um pub, o menor palco em que já estive. O que é ótimo e legal, eu gosto de ficar mudando desse jeito. Então sim, ainda estou por aí à fora.

HS: O que você sentiu ao parar de fazer tours com tantas pessoas a seu redor para cantar músicas nas quais você escreveu cada palavra e as fez do seu jeito?

PM: Foi bom, na verdade, porque aí estava a liberdade. Quando eu fazia parte do grupo, tudo era feito para você. Você vive em uma bolha. E até é legal, mas você pode se tornar um pouco saturado disso.

HS: Como você disse, é essa bolha na qual as coisas acontecem ao seu redor, mas não é a vida real. É incrível, mas não é realístico. Então quando você sai disso é bom entrar em sintonia com as outras coisas.

PM: Sim, é ótimo voltar à realidade.

Leia a terceira parte da entrevista, aqui.
Leia a primeira parte da entrevista, aqui.